Wingardium Levibosta! |
Quem tinha que ver já viu e quem não queria ver tanto assim, depois do que anda ouvindo, também não vai ver mais. Mesmo assim, para o nicho dos amantes da saga Harry Potter, que amam tanto esse mundo ao ponto de ainda assim estarem ansiosos para assistir, eu prometo uma crítica sem spoilers desse tal de Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald. Se você é daqueles fãs cegos do mundo bruxo, já pode começar sua gastrite desde já porque eu já te adianto que não gostei ¯\_(ツ)_/¯ , mas num apelo ao seu bom senso e capacidade de pensamento crítico, lhe convido a entender os meus motivos a seguir - juro que não é implicância. "Aparata" comigo e vambora!
Vamos à trama: Após a fuga do perigoso bruxo Grindelwald (Jhonny Depp, já já falaremos dele), o protagonista do primeiro filme (Animais Fantásticos e Onde Habitam, de 2016), nosso afetadíssimo e fofo - para alguns, para mim é irritante - "magizoologista" Newt Scamander (Eddie Redmayne de A Teoria de Tudo) recebe de seu antigo professor Albus Dumbledore (Jude Law que vai ganhar um parágrafo também, aguenta aí) a missão de ir até Paris para encontrar Creedence (Ezra Miller, calma que já explico) antes de Grindelwald e, assim, impedir que ele consiga realizar seu plano (?????). No meio disso nós temos um generoso punhado de personagens inúteis e a volta despropositada do trio que conhecemos anteriormente formado por Jacob (Dan Fogler, aleatório), Tina (Katherine Waterston, sem função) e sua irmã Qeenie (Alison Sudol, ainda cativante, porém mal desenvolvida). Ok, é isso.
Mas para falar das falhas que o filme tem, o melhor caminho é começar pelas características aparentemente fundamentais que ele não tem. Bom, os Animais Fantásticos do título não têm relevância na história e suas poucas aparições são só para nos lembrar que a franquia leva o nome deles; os Crimes de Grindelwald... bom... não estão lá - o personagem talvez seja o melhor do filme, mas sua vilania está em seus discursos ao ponto de um personagem chegar a dizer a frase "não é nenhum crime dar ouvidos a ele" - ; o protagonista Newt não é o protagonista; o clímax do filme não tem clímax, o final não conclui e as grandes revelações impactantes da história não conseguem impactar ninguém.
Eu poderia dizer só isso, mas preciso analisar um pouco mais. O vilão - que não é ainda tãããão vilão assim - de Johnny Depp é realmente bom. O ator se desligou do Jack Sparrow de Piratas do Caribe e entrega um Grindelwald muito envolvente, seguro, denso e convincente. Tudo ao seu redor engrandece os eventos do longa e sua retórica de limpeza étnica, nós contra eles, genocídio e superioridade traz bem-vindos paralelos com nossa história recente e mesmo com coisas que andam surgindo de novo por aí. Grindewald se diferencia de maneira muito satisfatória do vilão Voldemort ao não ser mau de forma simples. Como todo bom vilão, ele acredita que está fazendo o certo e sabe ser sedutor e persuasivo como um líder carismático. Ao invés de ser o bruxo das trevas, o vilão está mais para o Hitler do Mundo Bruxo. Mais malvado, mas mais complexo também. Acertado! O problema está nos motivos que o fazem perseguir o personagem de Ezra Miller, Credence, e de sua relação com o jovem e charmoso Dumbledore de Jude Law. Ambos estão bem em seus papéis, mas o roteiro da própria autora J.K. Rowling não nos entrega na tela a relação que estes personagem têm entre si, e exige do espectador que ele tenha lido os livros, os textos do site Pottermore e também o twitter da autora praticamente. Perdão, J.K, mas como diria Deadpool, isso é só bad writing.
Segundo os livros, Dumbledore e Grindenwald - verdadeiros protagonistas - têm um passado de relacionamento muito intenso e conturbado - que conta inclusive com um envolvimento amoro entre os então rapazes -, cheio de vaidade e poder que daria pano para um desenvolvimento potencialmente muito interessante SE escolhessem trabalhar isso. Mas o que vemos são pistas e sugestões que só funcionaram para mim, pois li os livros, mas quem assiste mais desavisado só ganhou uma série de referências vazias e cenas gratuitas - como as cenas na classica Hogwarts ou os flashbacks absolutamente inúteis do passado de Leta Lestrange (Zoë Kravitz, sub-aproveitada).
Enfim, Os Crimes de Grindelwald não é um desastre. Tem estilo, é visualmente lindo, tem ótimos atores e até bons personagens - que estão perdidos no roteiro inchado de recheio de linguiça que é o real problema da produção. Para os fãs de Harry Potter - e eu sou um deles, daí minhas críticas - ele certamente vai divertir bem mais, mas sua Tia Cremilda que só foi ver "por causa daquele menino do filme da Garota Dinamarquesa" - Redmayne -, vai ficar com sono. O saldo, no fim, é que mais uma vez seguimos esperando pela grande história que está por vir - mas parece que não chega nunca. Como diriam os Marotos Aluado, Rabicho, Almofadinhas e Pontas: Mal Feito Feito.
Coeficiente de Rendimento: 2,5/5
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