Splash: Uma Sereia em Minha Vida |
Olha só, eu ainda estou um pouco empolgado depois do fim da sessão de Aquaman que eu vi e que chega oficialmente aos cinemas de todo Brasil nesta quinta-feira (13/12), então vou tentar ser o mais objetivo possível taokey? O papo hoje aqui é sobre fantasia, heroísmo, aventura e, mais do que tudo isso, sobre HISTÓRIAS EM QUADRINHOS. Seja montado num dinossauro, numa orca, num tubarão, num cavalo-marinho ou numa besta mitológica, vamos entender que belíssima loucura foi essa que o diretor James Wan (de Velozes & Furiosos 7 e Invocação do Mal) fez com o personagem mais sacaneado da DC Comics. Só vem!
A primeira cena de Aquaman começa com uma citação ao escritor francês Júlio Verne, autor de obras clássicas que sua Tia Cremilda te fez ler como 20.000 Léguas Submarinas, Viagem ao Centro da Terra, A Ilha Misteriosa e Volta ao Mundo em 80 dias. Verne escreveu boa parte destas obras ainda no Século XIX. Considerado um dos pioneiros do que viria a se tornar o gênero de ficção científica, o autor se debruçava sobre o que era até então desconhecido. Suas histórias fantásticas falavam do oceano, do interior do planeta, de ilhas não mapeadas, coisas que talvez hoje, para nós, já não exerçam fascínio algum, mas que sua escrita se empenhava em explorar o sentimento mágico da descoberta e da capacidade de se maravilhar e surpreender. Não por acaso o filme estrelado pelo brucutu Jason Momoa (eterno Khal Drogo da série Game of Thrones) começa citando Verne. Além de referências claríssimas a algumas das obras mais famosas - destaque para as duas primeiras que citei - é este sentimento de ser fascinado pelo desconhecido que James Wan procura trazer para seus espectadores - e consegue quase sempre.
Dar a sinopse desse filme é simples para o fã de quadrinhos que conhece a saga - ou a ótima animação de 2015 - Trono de Atlântida de Geoff Jones - e desenhada pelo brasileiro Ivan Reis. Para quem conhece, bom é uma excelente adaptação dela, mas eu te explico: Arthur Curry (Jason Momoa) é um híbrido filho de um humano com a Rainha Atlana de Atlântida (Nicole Kidman voltando aos filmes de super-heróis que aqui funciona mais como uma coadjuvante de luxo). Seu meio-irmão, o atual Rei Orm (Patrick Wilson que passeia entre a realeza e a breguice com mestria sem errar o tom), sedento por poder, planeja tomar o controle à força de todos os reinos marinhos e iniciar uma guerra para subjugar o povo da superfície - que somos nós que jogamos canudos nos oceanos - e fazer o Reino de Atlântida retomar seu posto de maior império do mundo. Para evitar que milhões de vidas se percam no processo, a Princesa Mera (Amber Heard que consegue convencer bem como a poderosa companheira do herói que conhecemos das revistas) e o conselheiro de Orm, Vulko (Willem Defoe de cabelo estranho), conspiram para que o príncipe Arthur reivindique seu trono e use sua origem dupla para unificar os povos ao invés de destruí-los.
Com isso, vamos aos problemas. Aquaman não é perfeito. Com a longa duração de quase duas horas e meia, o filme demorou metade disso para engrenar de verdade. O casal principal, apesar do esforço dos atores, tem pouca química, o que se torna um problema quando eles estão praticamente sozinhos em cena durante esta primeira metade. Poucas piadas funcionam. Jason Momoa mantém a personalidade do fortão que grita "YEAHH" o tempo todo visto em Liga da Justiça (2017) e isso tira a seriedade de alguns momentos. Há muito o que ser explicado - muito mesmo - o que faz desta primeira metade muito verborrágica e beirando o cansaço. O heróis viajam o mundo entre uma cena e outra, pegam carros e aviões não sabemos como, e chegam aos destinos de sua aventura com uma facilidade inverossímil - toda esta parte lembra demais a dinâmica de Velozes & Furiosos 7, mesmo que James Wan estivesse claramente mirando em referenciar Indiana Jones. Cheguei a pensar, lá pelo meio, que o filme seria aquilo mesmo. Errei.
Num determinado momento, nossos protagonistas vão parar num lugar completamente inesperado - que seria spoiler contar - e tudo muda. Daquele ponto em diante James Wan nos entrega o fascínio que ele prometeu citando Júlio Verne na primeira cena e abraça a fantasia sem o menor medo de ser feliz - ou ridículo - te levando junto com ele. O filme assume um tom de realeza e legitimidade, falando com beleza sobre honra, heroísmo e sobre o certo a se fazer. Mesmo Jason Momoa muda sua atuação. A partir dos eventos desse ponto de virada, seu Aquaman finalmente entende e abraça o peso de suas responsabilidades, e a cena em que vemos Momoa com o traje clássico do herói é, literalmente, majestosa. O filme então se encaminha para uma conclusão grandiosa de embasbacar nossos olhos. A ação que já era excelente desde o começo, ultrapassa os limites do imaginável misturando tecnologia, magia, batalha e os poderes clássicos do personagem título.
O que pode ser dito no fim é que, com erros e acertos, Aquaman é um filme de quadrinhos, feito para quem é apaixonado por tudo isso. As cores são exageradas, as poses de super-herói são tiradas diretamente dos pôsteres e capas das revistas e mesmo os nomes e situações toscas são feitos sem medo aqui - James Wan ainda faz questão de dar um close bem brega no vilão quando ele se intitula "Mestre dos Oceanos" só pela zoação. O visual é incrível, os figurinos também - destaque para a maravilha que é a roupa do vilão Arraia Negra (Yahya Abdul-Mateen II, que é só um capanga por enquanto) - e as referências são muitas - até à Pequena Sereia tem se você estiver atento. Perfeito não é e exige de você uma capacidade de se fascinar com o desconhecido - e o impossível - que talvez esteja adormecida aí. Mas se Júlio Verne conseguiu fazer isso narrando uma viagenzinha besta pelo mundo que hoje qualquer Bruno de Lucca por aí faz, te garanto que James Wan e Jason Momoa são capazes de conseguir na sala de cinema - com o perdão do trocadilho: mas só se você mergulhar de cabeça.
Coeficiente de Rendimento: 3,5/5
Eu fui assistir essa semana e adorei a fotografia e achei que explicaram muito bem a história desde o começo. Os atores muito bons.
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