23 de ago. de 2018
Por Hugo Vinicius Pereira

"Sharp Objects" - Até onde sua família é capaz de te ferir?

Sentimentos da direita para a esquerda: ranço, pena e medo

Olha, que série difícil é essa tal de Sharp Objects! Te falar, viu... De tão impactado que estou depois do penúltimo episódio, que foi ao ar pelo canal pago HBO no domingo passado (19/08), eu nem consegui elaborar uma introdução espertinha como costumo fazer por aqui. Como primeira resenha de uma série de TV, a escolhida para tema de hoje é esta produção fascinante, baseada no também fascinante livro Objetos Cortantes (publicado no Brasil pela Editora Intrínseca) da autora de romances fascinantes Gillian Flynn (do também fascinante "Garota Exemplar" que virou filme em 2014). Fascinante é a palavra de ordem na resenha que começa agora.

Bom, fazendo uma contextualização rápida, Sharp Objects é uma produção em formato de minissérie com 8 episódios e já nasceu com o selo de qualidade do canal americano HBO (de sucessos de crítica e público como Família Soprano, Game of Thrones e Big Little Lies). A trama conta a história de Camille (Amy Adams absolutamente sensacional), uma jornalista de passado conturbado que precisa voltar à sua cidadezinha natal para investigar os assassinatos de jovens meninas no local. Nesta viagem, Camille precisa enfrentar os demônios do próprio passado que ela nunca superou e sua difícil relação com sua mãe Adora (Patricia Clarkson absolutamente sensacional também) e sua irmã mais nova problemática Amma (Eliza Scanlen veja só, mais uma que está absolutamente sensacional. Aaaah HBO, sua linda!)


Evitarei deliberadamente dar maiores detalhes da história e me focar na atmosfera de mistério e melancolia que exerce sobre o espectador o fascínio que mencionei antes. O roteiro da minissérie é coeso e profundo. Adaptado pela própria Gillian Flynn, pela roteirista Marti Noxon e pelos também - excelentes! - atores parte do elenco da produção Chris Messina (Detetive Richard Willis) e Matt Cravens (Xerife Bill Vickery), a trama avança com calma de propósito, nos deixando estudar as reações controversas de seus personagens brilhantemente desenvolvidos. Durante quase todo o tempo não sabemos direito o que está acontecendo. Os personagens são complexos, dúbios e, todos eles, tristes em algum grau e de alguma forma.

A direção do Canadense Jean-Marc Vallée demonstra um talento e uma competência surpreendentes. Ao mesmo tempo que o roteiro é coeso, a direção de Jean-Marc alterna entre os profundos silêncios e desertos da fictícia cidadezinha de Windgap com cortes muitas vezes brutos com as visões assustadoras da personagem de Amy Adams. De certa maneira, com a câmera, o diretor nos mostra que há segredos obscuros por baixo da aparente mansidão, e que eles às vezes aparecem de relance se estivermos atentos - mais do que isso: podem ser assustadores. Mais do que isso seriam spoilers...

Preciso mencionar que a HBO não dá ponto sem nó e não trabalha com qualquer um, e mesmo que você talvez não reconheça o nome de Vallée de primeira, saiba que ele é a visão por trás de dois grandes sucessos de crítica recentes: os oscarizados Clube de Compras Dallas (Dallas Buyers Club, 2013) e Livre (Wild, 2014). Procure saber.

O capítulo final vai ao ar no próximo domingo (26/08) dando cabo da história do livro perfeitamente. Confesso que mesmo conhecendo o livro e vendo o quão bem adaptado ele foi, eu queria mais. Sharp Objects é um acerto absoluto de produção, roteiro, direção e atuação. Não há nada na série que não esteja exatamente onde e como deveria estar. A série, é verdade, trata de temas muito pesados e que causam um desconforto e uma inquietação bastante incômodas muita vezes, tamanha é a entrega de seus atores aos personagens criados pela mente de Gillian Flynn - e isso é ótimo. 

Entre hoje (23/08) e domingo, se você tiver tempo, dá para maratonar a série até aqui e assistir com o resto do mundo o desfecho no próximo final de semana. Não recomendaria para sua Tia Cremilda, muito embora saiba que ela iria relacionar todas as vizinhas intrigueiras, os maridos rudes e as adolescentes sonsas da minissérie com gente da sua rua e seus tios e primos. Com um pouquinho de dedicação  ao ritmo que a série apresenta, garanto que você vai se envolver com a história de Camille e sua família problemática, afinal, como diz a mãe dela, "nem mesmo as rosas estão a salvo de Camille." Até a próxima!

Coeficiente de Rendimento: 5/5

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